Economia & Energia
Ano XV-No 82
Julho/Setembro
de 2011
ISSN 1518-2932

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Gripe americana

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Ensaio:

A gripe americana

Existe uma crença geral que as crises americanas têm resultados imediatos e mais radicais em nossa economia. É a história de que um resfriado americano representa uma gripe ou pneumonia por aqui. Nessa época de gripe americana, é conveniente analisar a veracidade histórica dessa afirmação porque o simples fato de se acreditar nela já provoca efeitos negativos em nossa economia.

Celso Furtado, ao contrário da crença corrente, assinalava que as crises na economia americana foram sentidas aqui no curto prazo, mas, de modo geral, acabaram sendo benéficas para a economia brasileira no médio prazo. Ele mostrou, em seu livro “O Capitalismo Global”, que a crise de 1929 e 1930 nos EUA produziam, já em 1932, um notável ressurgimento interno baseado no mercado nacional.

A tentativa de encontrar uma correlação entre as taxas de crescimento americanas e as brasileiras no período 1930 a 2010 não conduz a um resultado convincente. A situação não muda introduzindo uma defasagem de um ou dois anos da variação do PIB no Brasil em relação à americana.

Figura 1: A correlação entre crescimento no Brasil e nos EUA parece ser pouco significativa no período 1930 a 2010. Dados Ipeadata.gov.br. Elaboração própria

Examinando os diversos períodos em que se verificavam alto ou baixo crescimento, ao longo dos anos, vamos encontrar alguns episódios em que EUA e Brasil estão na mesma fase do ciclo, mas há muitas ocasiões em que o que aconteceu nos dois países tem sinal inverso (Figura 2). Em uma análise preliminar, pode-se dizer que os períodos em que estiveram em fase inversa superam os que estiveram na mesma fase.

Figura 2: Variação do PIB dos EUA e Brasil, valores anuais e média móvel de três anos: em azul, estão assinalados os períodos em que as economias parecem estar na mesma fase (variações no mesmo sentido) e, em amarelo, os períodos em fase inversa (variações em sentido contrário). Elaboração própria

Pode-se verificar que, no período a que aludia Celso Furtado as economias dos dois países parecem em mesma fase. Nota-se, no entanto, que a retomada do crescimento no Brasil precedeu à americana como dissera Celso Furtado que, ademais, se referia também a mudanças qualitativas, mais de desenvolvimento que de crescimento, que vieram com a maior atenção no País ao consumo interno.

Nos últimos trinta e três anos, a teoria do resfriado americano funcionou nas crises das mudanças para as décadas de oitenta e noventa (repercussões simultâneas e maiores em nossa economia) e na retomada do meio da década de oitenta. Cabe lembrar que os episódios dessas crises marcaram a alta de juros e falência mexicana (1982) e crises de hiperinflação em países como a Argentina que estavam muito mais próximos de nossa realidade. Nos últimos quinze anos, estivemos em fase inversa com os EUA: em 1998 eles estavam bem e o Brasil mal. Depois começaram a experimentar queda no seu crescimento enquanto a economia brasileira tinha as taxas de crescimento em elevação.  

Na Figura 3, buscou-se a correlação linear entre as variações do PIB, nos períodos assinalados na Figura 2, e os resultados confirmam a avaliação qualitativa. Ou seja, nos períodos em fase existe uma correlação positiva entre os crescimentos americano e brasileiro, nos períodos assinalados com amarelo, a relação é negativa.

Figura 3: Comportamento dos crescimentos dos PIB americano (na vertical) e brasileiro (na horizontal) para os intervalos de tempo assinalados na figura anterior.

Essa mudança de intensidade e sentido da correlação está apontando para fenômenos muito mais complexos que ligariam os crescimentos brasileiro e americano. Essa relação não é direta e, se existir, tem que ser estudada por período histórico. O que se conclui é que a “teoria do resfriado” não explica o passado mesmo quando ainda éramos muito mais dependentes dos EUA.

Recentemente, frente à crise financeira americana no final de 2008, houve uma brutal retração no crescimento da oferta em uma manobra preventiva do setor produtivo. No conjunto dos dois anos seguintes à crise, conforme dados das contas nacionais trimestrais do IBGE[1], a demanda cresceu 4,5% ao ano. Esse crescimento foi maior que a média dos anos do governo Lula (4,0%). Para acompanhar essa demanda em 2009, o PIB teve que crescer 7,5% e parte da demanda foi suprida com importações. Ou seja, a queda do PIB em 2009 se deveu, a nosso ver, a uma redução exagerada da oferta por uma leitura equivocada do efeito da crise na economia brasileira. Passou a primeira marola.

E agora (08/08/2011)? Entraremos em fase com eles?


 

  1 -Dados ipeadata.gov.br

 

Graphic Edition/Edição Gráfica:
MAK
Editoração Eletrônic
a

Revised/Revisado:
Monday, 16 January 2012
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