Economia & Energia
Ano XIV-No 77
Abril
/Junho de 2010
ISSN 1518-2932

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Workshop sobre a Produtividade de Capital no Brasil

Um Programa para a Produtividade de Capital no Brasil

Indicadores de Produtividade de Capital na Agropecuária Brasileira

Uma nota sobre a produtividade de capital a partir dos censos agropecuários brasileiros

 

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Uma nota sobre a produtividade de capital a

partir dos censos agropecuários brasileiros

 

Carlos Feu Alvim*

Claudio David Dimande**

*Editor - chefe da revista e&e

**Doutorando do PENO/COPPE/UFRJ

__________________________________

Resumo

São  feitas aproximações de produtividade de capital utilizando dados dos Censos Agropecuários do IBGE substituindo o valor agregado, que não está disponível nos Censos, pelo produto da agropecuária. O comportamento da produtividade de capital ao longo do tempo não apresenta tendência para crescimento ou decréscimo a valores correntes.

 

Abstract

Approximations to capital productivity using IBGE Agribusiness Census are made  by substituting the aggregated value, not available in the Census, by the agribusiness product. Capital productivity behavior along time does not tend to increase or decrease at current values.

Palavra-chave: produtividade de capital, agricultura, agropecuária, agronegócios

1. Introdução

Há mais de 40 anos os censos agropecuários brasileiros contêm dados sobre o estoque de capital (K) dos referidos estabelecimentos. É provável que seja o único setor para o qual o IBGE realizou sucessivas avaliações do estoque de capital. Para a apuração da produtividade de capital (Y/K) é necessário conhecer, além desse estoque, o valor agregado nos estabelecimentos do censo (Y), que não está disponível diretamente embora possa ser deduzida dos dados publicados por tais censos. Interpretar adequadamente esses dados e tirar conclusões não constitui tarefa fácil, se não vejamos:

Para apuração do valor agregado é necessário distinguir os insumos externos no nível empresarial ou do setor, conforme o caso. Além disso, não raro, o censo agropecuário do Brasil é publicado com mudanças metodológicas que dificultam a comparação dos resultados com os dos anos anteriores. As desagregações não são sempre as mesmas, por exemplo: culturas permanentes e matas plantadas (juntos em 1970 e desagregados nos outros anos) e máquinas, instrumentos e veículos (juntos em 2006 e desagregados nos anos anteriores). Outra alteração é o período investigado no Censo Agropecuário 1995-1996 que teve como referência o período de 01.08.1995 a 31.07.1996 e o período 31.12.1995 e 31.07.1996. Nesse censo também não foi apurado o estoque de capital, razão pelo qual seus dados não são utilizados nesta nota.

A atualização da moeda é outro problema, já que os censos atravessaram períodos quando a inflação era enorme e foram várias as alterações de moeda. A grande diferença entre a evolução dos preços agrícolas e os demais preços cria problemas para corrigir os valores dos produtos, insumos e investimentos agrícolas.

Neste trabalho, optou-se por usar as moedas do ano de referência tanto para o estoque de capital como para os valores do produto e do PIB da agropecuária. Os estoques de capital foram expressos em relação ao valor da produção computados para os estabelecimentos em cada ano. Os valores originais estão em anexo.

O objetivo desta nota é fazer aproximações de produtividade de capital utilizando os dados dos Censos Agropecuários, substituindo o valor agregado pelo valor da produção, uma vez que o valor agregado não está diretamente disponível nos censos agropecuários, mas sim no Sistema de Contas Nacionais (produto da agropecuária). A suposição é que o valor agregado obtido através das pesquisas dos estabelecimentos agropecuários guarde uma proporcionalidade com os utilizados nas proxys.

2. O Estoque de Capital

Na Tabela 1 estão indicados os valores do estoque de capital expressos em valores relativos aos valores da produção. Os valores por tipo de bem são mostrados em uma agregação que permite avaliá-los para todos os censos agropecuários considerados: culturas permanentes estão agregadas a matas plantadas e máquinas e equipamentos, a veículos e outros meios de transporte.

Também estão indicados os valores do PIB agropecuário anual relativo ao valor da produção onde este é, naturalmente, superior ao valor agregado do setor (medido pelo PIB). A comparação do valor da produção apurado para os estabelecimentos com o valor apurado para o setor não é, no entanto, uma comparação direta. Mesmo assim, os valores do produto são coerentemente maiores que o PIB do setor. Para os anos de 1980 e 1985 os valores do PIB do setor relativos aos valores da produção são bastante inferiores aos dos demais anos. Deve-se lembrar, no entanto, que esses foram anos de crise e que a alta inflação ocorrida pode ter distorcido a apuração dos valores ao longo do ano bem como reduzido a rentabilidade na economia real em benefício dos rendimentos financeiros.

 

ESTOQUE DE CAPITAL RELATIVO AO VALOR DA PRODUÇÃO

1970

1975

1980

1985

2006

Estoque de Capital Total

579,6

970,3

608,3

761,8

861,2

Bens

Imóveis

Prédios residenciais e para fins sociais, instalações e outras benfeitorias

83,0

103,5

66,1

87,5

79,7

Terra

311,6

676,3

384,1

489,2

607,8

Outros

Bens

Culturas permanentes e matas plantadas

52,1

60,5

58,2

63,3

49,2

Animais de criação e de trabalho

104,2

91,1

73,0

79,6

69,1

Máquinas e Instrumentos, veículos e outros meios de transporte

28,7

39,0

26,8

41,5

55,3

ESTOQUE DE CAPITAL EXCETO TERRA

268,0

294,0

224,2

272,6

253,3

Valor da Produção

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

PIB Agrícola

80,7

77,2

49,7

44,9

77,6

Tabela 1 - Valor dos Bens e da produção

(Fonte: dados elaborados a partir do Censo Agropecuário do IBGE)

 

O Gráfico 1 mostra a evolução do estoque de capital relativo ao valor da produção. Chama a atenção a grande participação do valor da terra no estoque de capital que em 2006 representava mais de 70% do total. Deve-se lembrar que este é um tipo de investimento que, a menos de descuidos no seu uso como as práticas que provocam a degradação do solo, não se deprecia significativamente com o tempo e até se valoriza na medida em que se torna mais escasso e já que é usado como reserva de valor, seu preço oscila com a rentabilidade de outros investimentos e, é claro, do próprio setor agropecuário, o que pode viciar a avaliação.

No Gráfico 1 pode-se ver que as variações mais importantes do estoque de capital em relação ao valor da produção são devidas à variação no valor da terra. No mesmo gráfico usa-se a representação “vazada” do valor da terra para chamar a atenção para a relativa estabilidade do estoque de capital (excluindo o valor da terra) em relação à produção. Com efeito, o valor do estoque de capital relativo ao valor do produto oscilou 10% (desvio padrão) em torno da média (253/100), como pode ser visto na Tabela 1.

Como a suposição aqui adotada é que o valor de produção é uma boa proxy do valor agregado, pode-se supor que, já que a razão estoque de capital/valor do produto é estável, a razão estoque de capital/valor agregado (K/Y) é estável (razoavelmente estável ao longo do tempo), assim como o seu inverso (Y/K), a produtividade de capital. Realçando que a referência é o estoque de capital exceto terra.

Gráfico 1: Estoque de Capital relativo ao valor da produção

Quanto à participação no estoque de capital “não terra”, destaca-se (Gráfico 2) a relativa estabilidade na participação dos prédios e instalações (cerca de 30%) e das culturas permanentes e matas plantadas (cerca de 20%). Como era de se esperar, com a drástica modernização ao longo desses 36 anos, cresceu a participação de máquinas e veículos (dobrou) e decresceu a de animais de criação e trabalho.

Gráfico 2: Estoque de Capital com exclusão do fator terra.

3- Produtividade de Capital (Valores proxy)

Como aproximações para o comportamento do valor agregado pelas empresas, esta nota utiliza: a) os valores da produção das empresas pesquisadas no Censo e b) o PIB da agropecuária.

O estoque de capital é considerado com e sem inclusão do valor da terra. Os valores obtidos mostrados na Tabela 2 derivam da divisão dos dados das duas últimas linhas (proxies de Y) da Tabela 1 pelo valor da primeira linha (K). Nas linhas seguintes são indicados os valores resultantes da divisão do estoque de capital, excluído o valor da terra (linha 6 da Tabela 1) pelos valores das duas últimas linhas da Tabela 1. Também estão indicados os valores médios para os censos considerados.

 

1970

1975

1980

1985

2006

Média

Valor da Produção/ Estoque de Capital

0, 173

0, 103

0, 164

0, 131

0, 116

0, 131

Valor do PIB agropecuário/ Estoque de Capital

0, 139

0, 080

0, 082

0, 059

0, 090

0, 082

Valor da Produção/ Estoque de Capital (exceto terra)

0, 373

0, 340

0, 446

0, 367

0, 395

0, 373

Valor do PIB agropecuário/ Estoque de Capital (exceto terra)

0, 301

0, 262

0, 222

0, 165

0, 306

0, 262

Tabela 2: Valor da Produção ou PIB por estoque de capita
(com e sem terra)

Para estimar o valor da produtividade de capital é necessário usar uma medida de produto que expresse o valor agregado, como o PIB agropecuário. Note-se que a soma de valores agregados de todos os estabelecimentos difere do valor agregado do setor, já que os limites na apuração setorial e das empresas são distintos. Já a soma do estoque de capital de todos os estabelecimentos do país coincide com o estoque de capital nacional. A razão valor do PIB agropecuário (das contas nacionais) sobre valor do estoque de capital do censo pode ser considerada uma boa estimativa do valor da produtividade de capital.

O valor da produtividade de capital, incluindo o valor da terra, é baixo (0,08) em relação à produtividade de capital média do Brasil que é da ordem de 0,40 (ver artigo “Indicadores de Produtividade Capital na Agropecuária Brasileira“ neste número). Deve-se assinalar que o valor da terra não integra diretamente a Formação Bruta de Capital Fixo que serve de base à determinação do estoque a partir dos dados das Contas Nacionais. Para efeito de comparação com outros setores, é melhor tomar o estoque de capital sem a terra cujo valor médio é 0,26. Este valor é inferior à média da economia indicada acima. Como está se considerando um setor de produção primária que dá início a uma cadeia de agregação de valor com etapas de maior produtividade, o valor da produtividade de capital no setor agrícola pode ser considerado alto para uma atividade primária.

No que concerne o comportamento ao longo do tempo, o valor do produto tem a vantagem de ser um dado proveniente da mesma base e expresso na mesma moeda. O Gráfico 3 mostra a evolução dos vários fatores relativos ao valor em 1970, e as várias razões indicadas para avaliação da produtividade de capital (da Tabela 2). Como já foi mencionado, espera-se que o comportamento da razão valor da produção/ estoque de capital seja uma boa aproximação para a evolução da produtividade de capital ao longo dos anos.

Gráfico 3 – Indicadores de Produtividade de Capital

O indicador mais significativo da produtividade de capital parece ser o valor do PIB agropecuário / Estoque de capital (sem a terra). Esse indicador mostra uma produtividade de capital na agropecuária relativamente estável (linha superior verde e contínua no Gráfico 3). Este comportamento é semelhante ao mostrado no artigo “Indicadores de Produtividade Capital na Agropecuária Brasileira“ publicado neste mesmo número da revista onde se constatou que a razão valor agregado/hectare permaneceu aproximadamente constante por várias décadas ao passo que, a preços constantes, houve um grande crescimento da produção agropecuária por ha e da produtividade de capital.

4- Conclusão

Os censos publicados apresentam uma informação importante que é o estoque de capital subdividido em diversos itens. O componente mais variável desse estoque é o valor atribuído à terra. Quando considerados apenas os outros componentes, existe uma notável constância do estoque de capital relativo ao valor da produção. A participação dos diversos componentes no estoque é relativamente estável, notando-se apenas um forte aumento da participação de máquinas e veículos em detrimento de animais de criação e de trabalho.

O comportamento da produtividade de capital ao longo do tempo não apresenta tendência para crescimento ou decréscimo a valores correntes. Como se sabe que foi acumulada uma defasagem que fez cair de 60% os preços da agropecuária em relação aos demais, pode-se concluir que existiu um forte aumento da produtividade agrícola a preços constantes que não é captada a preços correntes.

 

5- Referências Bibliográficas

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2006. 

Censo Agropecuário Brasil. Rio de Janeiro: IBGE.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1995/1996. 

Censo Agropecuário Brasil. Rio de Janeiro: IBGE.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1985.

Censo Agropecuário Brasil. Rio de Janeiro: IBGE.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1980. 

Censo Agropecuário Brasil. Rio de Janeiro: IBGE.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1975.

Censo Agropecuário Brasil. Rio de Janeiro: IBGE.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 1970

Censo Agropecuário – Brasil. Rio de Janeiro: IBGE.

 

ESTOQUE DE CAPITAL (R$)

1970

1975

1980

1985

2006

Valores na moeda do ano

144.709.933

1.349.700.942

15.071.876.975

2.520.548.289

1.238.572.595

moeda

 

 

 

 

 

Bens
Imóveis

Prédios residenciais e para fins sociais Instalações e outras benfeitorias

20.722.414

143.947.753

1.636.692.052

289.627.887

114.611.990

Terra

77.805.795

940.749.078

9.517.648.832

1.618.691.069

874.206.542

Outros
 Bens

Culturas permanentes e matas plantadas

12.998.631

84.099.452

1.442.515.352

209.539.261

70.797.351

Animais de criação e de trabalho

26.010.155

126.719.853

1.809.933.504

263.522.906

99.391.932

Máquinas e Instrumentos Veículos e outros meios de transporte

7.172.938

54.184.807

665.087.233

137.167.159

79.564.777

ESTOQUE DE CAPITAL EXCETO TERRA

66.904.138

408.951.864

5.554.228.143

901.857.220

364.366.053

Valor da Produção*

24.967.914

139.106.514

2.477.753.933

330.853.100

143.821.309

PIB Agrícola*

20.156.950

107.349.000

1.232.110.000

148.715.095

111.566.000

 

A Organização Economia e Energia - e&e e sua
Experiência em Produtividade de Capital

A Organização Economia e Energia nasceu em 1998, com sede em Belo Horizonte e filial no Rio de Janeiro, sendo seus objetivos, por um lado, dar sustentação à revista do mesmo nome, criada em 1997, e, por outro, contribuir para o desenvolvimento social e econômico do Brasil e de outros países, através de pesquisas nos campos da economia e energia. A Organização conta com os seguintes associados: José Israel Vargas (Presidente do Conselho), João Camilo Penna, Othon Luiz Pinheiro da Silva, José Goldemberg, Omar Campos Ferreira, Carlos Augusto Feu Alvim da Silva (Diretor Superintendente), Olga Y. Mafra Guidicini, Frida Eidelman, Genserico Encarnação Júnior, Marcos Aurélio Santos de Souza, João Antônio Moreira Patusco e Aumara Bastos Feu Alvim de Souza.

Vários dos integrantes da Economia e Energia vêm trabalhando no tema há mais de duas décadas. Em 1997, foi lançado o livro “Brasil: O Crescimento Possível”, (Editora Bertrand), que contou com a assessoria do Ministro João Camilo Penna e tem entre seus autores Carlos Feu Alvim (coordenador), Omar Campos Ferreira e Aumara Feu, integrantes da equipe da e&e, no qual a queda da Produtividade de Capital foi identificada como um dos principais entraves ao crescimento do país. Dois de seus membros, Aumara Feu e Marcos Aurélio Santos, realizaram seus trabalhos de tese de doutorado em Economia sobre o tema na Universidade de Brasilía.

Em 2005 foi editada pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), com a participação e coordenação de membros da e&e, uma coletânea de artigos sobre Produtividade de Capital, onde foram apresentadas avaliações da Produtividade de Capital no Brasil, por setor e tipo de capital. A revista trimestral Economia e Energia, e&e, editada pela Organização de mesmo nome, tem tratado em vários de seus artigos o assunto Produtividade de Capital, que tem servido de valiosa fonte de informação para alunos e pesquisadores do tema.

 

 

 

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Revised/Revisado:
Tuesday, 03 May 2011
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