Economia & Energia
Ano XII-No 71
Dezembro 2008 -
Janneiro 2009
ISSN 1518-2932

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Opinião:

Ciência e Tecnologia

Iberê Mariano da Silva (*)

 

A área de ciência e tecnologia (C&T) é uma expressão do Poder Nacional de um Estado soberano, ao lado das expressões militar, psicossocial, econômica e política. Esta área é também um separador entre as nações que estão submissas e aquelas que almejam se projetar.

Em geral usa-se C&T como palavra composta. Não é. Ciência é uma coisa e tecnologia é outra. Num modo simplista, a ciência é a parte pura, que não tem dono e pertence a toda humanidade. Por exemplo, as leis de Newton, de Ohm, de Boyle-Mariotti, o modelo do átomo etc. Já a tecnologia é a parte que se comercializa. Vende-se, troca-se ou esconde-se. Em alguns acordos comerciais, uma das cláusulas é a transferência de tecnologia. Justo aqui, começa o nosso problema. Muitas vezes não são escolhidas pessoas com o pré-conhecimento necessário para recebê-la. Esta se perde, com prejuízo para a nação.

Vejamos alguns problemas dos pesquisadores e cientistas. Em geral são tidos, por instituições não preparadas para eles, como “criadores de casos”. Isto é devido a estarem permanentemente vendo outra solução ou maneira de encarar um problema.  O pesquisador e o cientista, em geral com coeficientes de associabilidade (QA) e de inteligência (QI) acima da média, têm que viver em grupos. Sua dinâmica de raciocínio, suas piadas, sua conversa e seus interesses são outros. É todo um estado emocional diferente. Para que isto ocorra, e que um Estado se beneficie de seus conhecimentos e sua produtividade, é necessária a existência de centros ou instituições de pesquisa.

Damos bolsas de estudo no exterior aos mais promissores e estes, em alguns anos, retornam. Ao voltarem, não encontram instituições de pesquisa onde possam dar continuidade às suas pesquisas e interesses, contribuindo com o que lá fora aprenderam. Frustram-se em uma série de problemas de caráter organizacional e administrativo, e de duas uma: ou voltam para o exterior ou se acomodam.

Dá-se a evasão de cérebros. O país fica no prejuízo. Não tem retorno do capital investido pelo contribuinte. Os que ficam, poucas vezes têm oportunidade de retransmitir seus conhecimentos. Envelhecem, não mais se aprimoram, desatualizam-se, sentem solidão tecnológica e, sem animo, não passam o bastão para os mais jovens. Em relação à remuneração, acabam trocando seu idealismo e vocação pela realidade. Afastam-se da área de pesquisa.

Outro tipo de evasão de conhecimento ocorre devido à maneira esquisita de avaliação da Capes. Ganha pontos quem publica “papers” e artigos no exterior. Passamos de mão beijada, para institutos fora do país, os resultados das pesquisas de nossas universidades. Eles dão continuidade à pesquisa, transformam-na em tecnologia e pouco tempo depois estamos comprando os produtos.

Voltando aos problemas do pesquisador, ele tem que estar atento à mudança de políticas e às diretrizes personalistas. Num ano, seu trabalho é muito importante e é contemplado com verbas para prosseguir, logo em seguida o interesse pode desaparecer por completo. Outro problema é o fluxo de verba para pesquisa. O pesquisador pode ter hiatos de verbas, às vezes de meses, principalmente no reinício de cada exercício financeiro.

Um simples componente, do qual precise, leva meses para passar pela seção de compras, pela licitação e por outros processos burocráticos, até a entrega pelo fornecedor e os tramites do almoxarifado. Muitas vezes o pesquisador mais afoito em ver resultados sai e compra de seu próprio bolso.

Caso se trate de um equipamento, um aparelho, uma avaliação ou outra necessidade mais cara, quando chega o que foi solicitado, o pesquisador de há muito está em outra atividade. A lei Nº 8.666, que foi feita para cercear roubos e dar transparência, não foi eficaz. Os desvios de verbas e roubos continuam, e os trabalhadores honestos são prejudicados.

Para deslanchar a área de C&T, várias medidas devem ser tomadas. Devem ser criados pólos tecnológicos e instituições de pesquisa bem aparelhados, reais e não apenas demagógicos. Deve haver um banco de dados que informe a pesquisa que está sendo realizada, sua localização e seu cronograma físico financeiro, de tal modo que outros pesquisadores em outras instituições possam somar esforços.

Deve-se divulgar ao contribuinte que apenas cerca de 10% das pesquisas chegam a um resultado positivo e lucrativo. Os outros 90% tem como resultado positivo mostrar que aquele não era o caminho. Deve-se estabelecer que os ”royalties” pagos por uma inovação tecnológica devem ser repartidos (em porcentagens a serem discutidas) entre o grupo de pesquisadores, o financiador, a instituição na qual foi criada e a instituição à qual pertencem os pesquisadores.

Deve-se incentivar a triangulação entre institutos de pesquisa, universidades e a indústria. Na primeira cria-se e inova-se, na segunda difunde-se o novo conhecimento e na terceira produz-se o bem para que a sociedade tenha seu retorno. Tudo com seus lucros.

Vemos um exitoso exemplo praticado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ela procura empresas e indústrias com problemas pontuais (ou é procurada por elas). São alocados, então, alunos que, de acordo com a necessidade, vão resolver os problemas através de trabalho de fim de curso e teses de mestrado ou de doutorado. As empresas doam para a universidade equipamentos que por ventura sejam necessários à pesquisa. E os alunos, por vezes, ao concluir o curso já se encontram empregados. Lucram todos.

Diversos inventores, pesquisadores e cientistas autônomos têm dificuldade de saber o que fazer ou a quem recorrer para levar à frente seus projetos, tanto no sentido financeiro como no mercadológico.  Com isto, diversas inovações se perdem.

Outro fator que deve ser olhado de perto é o tocante ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Patentes são caras e demoradas para pessoas físicas. Em diversas empresas existem soluções que valem patentes. O INPI poderia atuar mais. Se o número de patentes no Brasil é baixo, talvez esteja aí a causa. O INPI poderia se organizar mais e passar a ser aquinhoado com verbas mais compatíveis. O retorno é certo.

Olhando por outro prisma, diversas tecnologias nos são negadas e estão numa lista do Departamento de Defesa norte-americano. Por exemplo: grafite, pesquisa espacial, pesquisa nuclear, pesquisas em química fina, grafite nuclearmente puro, fibra de carbono, guiamento inercial etc. Várias vezes, nossos pesquisadores adquirem os conhecimentos nestas áreas. Assim que sabem que possuímos a tecnologia específica ou estamos a um passo dela, retiram a proibição e a comercializam mais barata. Nossos institutos param com a pesquisa e remanejam os pesquisadores. Tão logo deixamos de ser um potencial fabricante, o item é retirado do mercado e entra novamente na lista de proibições.

Outro óbice são organizações não-governamentais (ONG) estrangeiras, que fazem de tudo para criar embaraços e acabar com pesquisas que não lhes interesse que tenhamos. É o caso de transgênicos, células-tronco, supercondutores etc.

Sempre encontram uma brecha para parar a pesquisa: contratam os pesquisadores líderes, promovem a transferência de função dos institutos ou a movimentação de pesquisadores para outra área, interferem para o fechamento de institutos, criam alvoroços na opinião pública (terrorismo utilizando a ignorância) ou motivam criação de leis auto-censurantes.

Hoje, não existe nação desenvolvida e verdadeiramente soberana sem uma atividade intensa de C&T.

 


(*) General-de-brigada engenheiro militar na reserva, pós-graduado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e pela École Nationale Supérieure de l’Aéronautique et l’Espace (França), diplomado pelo Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército (CPAEx).

 

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Revised/Revisado:
Monday, 31 October 2011
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