Economia
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Matriz
Energética e de Emissões Dívida Pública e Reservas do Brasil Matriz
Energética e de Emissões |
Projeto: Fornecimento de Instrumentos de Avaliação de Emissões de Gases de Efeito Estufa Acopladas a uma Matriz Energética - Relatório Final - Resumo Executivo (continuação) O Cenário MacroeconômicoO crescimento do PIB projetado para o Brasil que normalmente tem sido usado para as projeções energéticas tem sido, na maioria das vezes, a expressão de desejos. No caso de nosso estudo de matriz energética, foram consideradas as limitações que, a nosso ver, têm impedido o crescimento nos níveis desejados. Nosso cenário não é, também, uma simples extrapolação das tendências observadas que mostrariam para o Brasil um quadro de estagnação do rendimento per capita como o que se verifica já há duas décadas. Nosso cenário apresenta o crescimento possível com a modificação de alguns fatores que vêm travando nosso desenvolvimento. À diferença de a simples expressão de um desejo, nós procuramos mostrar o que deve ser modificado para chegar ao cenário de crescimento moderado que apresentamos aqui. As principais limitaçõesEm nossa abordagem, o principal fator limitante identificado é o investimento. Nossa metodologia baseia-se em dados das Contas Nacionais onde o investimento é identificado com a formação bruta de capital fixo. Ou seja, ele não tem a ver diretamente (e nos últimos anos muito pouco) com o investimento financeiro que, no Brasil, tem significado principalmente empréstimos ao Governo para financiar dívidas anteriores ou para manter reservas. Nessa abordagem, o investimento (relativo ao PIB) é simplesmente a soma da fração do PIB não absorvida pelo consumo (poupança territorial) mais as transferências do exterior de mercadorias e serviços reais (exclui juros e dividendos) como transporte, viagens e seguros, expressos também em função do PIB. Ou seja, o investimento financeiro externo absorvido pelo governo e o das privatizações, que não incrementam o estoque de bens de capital não são contabilizados. Portanto, partimos da equação básica das Contas Nacionais onde (a menos das variações de estoque) as entradas se igualam às saídas, ou seja:
Importação + Produção = Consumo + Investimento + Exportação As Transferências do Exterior[1] podem ser encaradas como os recursos reais transferidos para o país . Como o estoque de capital, calculado pelo “Método de Estoque Perpétuo”, é a soma dos investimentos passados descontados de sua depreciação, podemos considerar que o fator limitante para o crescimento é o estoque de bens de capital existente. O PIB projetado será o produto do estoque de capital (K) pela produtividade (v) com que ele for usado. Ou: Y(projetado)= K.v Considerar apenas um fator limitante pode parecer uma simplificação exagerada. Em nossa metodologia lidamos ainda com: a) um fator de ocupação, que mede a influência dos fatores conjunturais que não poderiam ser descritos pelo estoque de capital acumulado; e, b) uma função logística para ajuste da produtividade de capital. O desvio médio em relação ao produto assim obtido é de 6% ao longo dos 50 anos considerados. O modelo que utilizamos considera ainda outros fatores (endogenamente ajustados) mas estes são fundamentalmente os limitantes considerados. Poupança InternaA disposição para poupar, ou poupança territorial, vinha tendo um comportamento bastante regular até o Plano Real. Em fração do PIB, ela é representada (Figura 1) em valores correntes e constantes (no período disponível). Nossa projeção supõe uma retomada na capacidade interna de investir, o que implica uma maior renúncia ao consumo para os próximos anos.
Poupança ExternaNo conceito aqui adotado, a poupança externa (disponibilidade de recursos externos) é igual a transferências do exterior, cujos valores históricos e projetados são mostrados na Figura 2. Os investimentos, também mostrados na Figura 2, provêm da soma da poupança externa e da poupança interna .
Nossa suposição foi que as transferências externas para o Brasil e, conseqüentemente, a poupança externa, se tornem negativas a partir de 2003. Existem razões práticas para isso. A primeira delas é que há um limite dos ativos de um país que, por razões estratégicas, seria interessante manter em mãos nacionais. O limite suposto por nós para o passivo líquido nacional (dívida externa + estoque de investimento externo) foi de 70% do PIB ou cerca de 30% de todo o estoque de capital no país. A segunda razão é que o investidor ou credor externo sabe que um país cujo comércio externo[2] tem sido, durante 50 anos, cerca de 7% do PIB não pode, durante um tempo razoável remeter mais que 2% do PIB que é cerca de 20% de seu comércio externo. Para maiores remessas, estaria comprometido o crescimento econômico ou reduzida drasticamente a capacidade de consumo. Note-se que, para calcular o passivo líquido nacional, foi considerada uma remuneração real dos investimentos externos de 3,5% ao ano para os investimentos produtivos; e, de 5% (reais) ao ano para os empréstimos externos. Estes níveis estão abaixo dos atualmente praticados, contudo valores muito maiores resultam em um excessivo comprometimento de ativos pelo país. Como uma remuneração dos investimentos em termos reais da ordem de 4% é bastante aceitável no longo prazo, preferimos adotar esses valores, confiando que a prática econômica se encarregará de fazer as correções das expectativas exageradas em relação a taxa de remuneração de investimentos no País. A limitação à poupança externa advém, na nossa abordagem, da capacidade limitada de remunerar o capital externo aqui investido. Na realidade, estamos admitindo que já foram praticamente atingidos os limites de comprometimento dos ativos nacionais. Produtividade de CapitalA produtividade do capital decresceu significativamente nas décadas de setenta e oitenta no Brasil. A Razão Capital/Produto, inverso da produtividade de capital, que era de cerca de 1,4 passou, em duas décadas para cerca de 2,6 como é mostrado na Figura 3. Nossa hipótese é que ela se estabilize nos anos seguintes nos níveis observados na década de noventa.
Existe agora um certo consenso no Brasil sobre essa perda de produtividade de capital. Os valores da razão capital/produto diferem um pouco nas diferentes avaliações em função das hipóteses sobre como o investimento histórico é depreciado e outros aspectos metodológicos. A perda de produtividade encontrada, entretanto, é bastante coerente. Embora essa perda de produtividade de capital seja algo esperado com a evolução do processo produtivo, o Brasil teria atingido, com um produto, em termos de poder de compra, de menos de 5 mil dólares por habitante, o mesmo patamar da razão K/Yque outros países atingiram quando alcançaram um PIB/habitante da ordem de 20 mil dólares. Ações de política econômica nacional, regional e/ou setoriais, bem como de estímulo à produtividade nas empresas poderiam gerar ganhos significativos na capacidade de crescer, diminuindo os sacrifícios para obter o investimento necessário para crescer. Crescimento ProjetadoOs valores do PIB, históricos e projetados, são mostrados na Figura 4. O crescimento médio projetado é de cerca de 3,3% ao ano no período 2000/2020. Este cenário, cujo crescimento pode parecer modesto, supõe ações corretivas para estímulo ao investimento produtivo. A taxa de poupança interna é significativamente superior à atual mas compatível com a tendência histórica anterior a 1994. Maior crescimento só parece possível com mudanças profundas na estratégia produtiva com fortes ganhos na capacidade de investir e/ou na produtividade de capital.
[1] É mais comum, na linguagem econômica, falar-se em transferências para o exterior (X-M) ou seja o investimento seria a parte não consumida da produção (Y-C) menos as transferências para o exterior. [2] Por comércio externo, entendemos a soma das importações e das exportações dividida por dois.
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Graphic Edition/Edição Gráfica: |
Revised/Revisado:
Tuesday, 17 May 2011. |