Exaustão da reserva mundial de petróleo

Omar Campos Ferreira
Curso de Planejamento Energético -UFMG

Avaliar o montante da reserva mundial de petróleo é uma questão de interesse estratégico, visto que ele responde por 1/3 de toda a energia usada no mundo e pela quase totalidade dos combustíveis usados nos transportes.

Várias tentativas de avaliação, com diferentes metodologias, foram elaboradas e se frustraram, talvez por deficiência de dados. Observa-se que à medida que os dados se acumulam os resultados das projeções tendem a convergir. Exemplos recentes de projeções concordantes constam de trabalhos publicados pelo World Energy Council ( "Energy for Tomorrow’s World", St. Martin’s Press/1993 )e pela Petroconsultants S.A ( "An oil depletion model " - C.J. Campbell/1994 ). O primeiro (WEC) não detalha a metodologia usada na projeção e informa que em 1990 a reserva remanescente de "óleo convencional" (excluidos portanto o óleo do xisto das areias betuminosas) era de 57% da reserva total.

O segundo (Petroconsultants) usa um método de análise por Geometria Fractal e conclui que por volta de 1995 a reserva remanescente era de 50% da reserva total.

Neste trabalho, apresentamos nossa análise da questão, usando a metodologia de projeção logística que foi apresentada em edição anterior da e&e, cujos resultados são bastante bem concordantes com os dos dois trabalhos citados.

A base de dados é extraída do trabalho de C.J. Campbell e contém as duas informações necessárias para a aplicação da metodologia logística : a reserva mundial conhecida, ano a ano, a partir de 1930, e a taxa decenal média de descoberta de novos campos (tab 1). O uso da média decenal justifica-se, considerado o caratér aleatório das descobertas, como um modo de alisar as curvas usadas na projeção, pois a equação diferencial da curva logística pressupõe a continuidade das variáveis envolvidas; a desvantagem é a perda de resolução na determinação da época em que a taxa passa pelo valor máximo.

Tabela 1 - Evolução da reserva mundial de petróleo

Ano

1935

1945

1955

1965

1975

1985

Descoberta acumulada - Gb* (N)

177,9

337,8

616,3

1.022,1

1.233,5

1.427,4

Taxa média de descoberta Gb/ano (dN/dt)

13,2

20,6

28,0

34,5

23,9

12,0

ln F/(1=F)**

-2,006

-1,236

-0,3604

0,7602

1,532

2,979

* Gb = giga-barris = 1 ´ 1012 barris
** F =
N/

O tratamento dos dados se inicia pelo estudo da lei de evolução da reserva acumulada (N). Para esta primeira prospecção, o valor da reserva final é qualquer, visto que ele não afeta a natureza da equação ln

Partindo do resultado do estudo do WEC, tomamos = 1.500 Gb. O ajuste dos dados à lei ln F/(1-F) = at + b por regressão linear dá o coeficiente de correlação R2 = 0,9953, o que demonstra que o modelo logístico é apropriado à interpretação (Fig. 1). O ajuste perfeito corresponderia a R2 = 1,0000.

Figura 1: Descobertas acumuladas de petróleo
Ajuste logístico

 

O segundo passo consiste em estimar pelo ajuste da taxa média de descoberta à parábola .

A curva ajustada resultou ser

Os valores observados estão grafados juntamente com a curva ajustada (Fig. 2).

Figura 2: Média decenal de descobertas anuais de petróleo

A metodologia usada indica que a reserva mundial acumulada é de 1.630 x 1012 barris, equivalente a 220 x 1012 toneladas. A evolução projetada para as reservas acumuladas é mostrada na Figura 3.

Figura 3: Evolução projetada da reserva mundial acumulada de petróleo

O estudo do WEC dá o valor de 200 x 1012 t e o estudo da Petroconsultants dá 243 x 1012 t, o que demonstra a convergência de projeções independentes.Tomando o valor médio das 3 projeções para a reserva total, 221 x 1012 toneladas, e considerando que até 1996 foram extraídas e consumidas 103 x 1012 toneladas, conclui-se que a extração de petróleo estará passando pela taxa máxima até o ano 2.000.

O que virá no próximo século é assunto para especulação. Talvez não ocorra um novo choque de preços, como os da década de 70, porque a economia mundial já se preparou para a nova conjuntura. Entretanto, um aumento gradual dos preços da energia é fatal. Em termos físicos, a renda energética mundial deverá cair. A distribuição do ônus certamente penalizará principalmente os países mais pobres.

O problema energético será mais sério no setor de transportes, visto que os usos industriais e domésticos poderão ser atendidos pela eletricidade gerada em centrais nucleares, apesar da relutância mundial em aceitá-la.

Para o Brasil seria a oportunidade para desenvolver a energia da biomassa, dado as excepcionais condições de extensão territorial, população ainda pequena, tendendo a se estabilizar em torno de 250 milhões de pessoas, e as características edafo-climáticas do território. Seria também o caso de moderarmos a adesão ao modelo de economia globalizada ou, pelo menos, de negociarmos cuidadosamente a adesão.

Topo Documento Principal